Separados por décadas, remetente e destinatário se encontram em projeto que une gerações

Quatro pessoas estão sentadas e engajadas em uma conversa. À esquerda, um jovem de boné preto e camiseta cinza e uma mulher idosa de camiseta roxa sorriem, olhando para a direita. Na direita, uma mulher idosa de cabelo branco e uma jovem de bigode ralo, ambos de camiseta azul, sorriem de volta. No centro da mesa há um item de crochê rosa e branco e celulares. A foto transmite alegria e a troca de experiências.
  • Publicado em 06 nov 2025 • por Paula Maciulevicius de Oliveira Brasil •

  • De um lado, alguém que já coleciona histórias em mais de seis décadas de vida. Do outro, quem ainda está descobrindo o que os anos reservam. Separados pelo tempo, jovem e pessoa idosa se encontram em cartas, olhares e partidas de jogo.

    À primeira vista, a ideia pode até parecer fantasiosa, mas a naturalidade com que ambos se recebem mostra que é não só possível, como necessário, conectar gerações.

    No primeiro plano, à esquerda, uma mulher idosa de cabelo preso, óculos, camiseta vinho e saia verde de bolinhas, está de pé conversando com um jovem alto de camiseta azul escura. Outras duas pessoas estão sentadas à mesa: uma mulher de óculos e camiseta branca, e um jovem manuseando um objeto na mão (possivelmente outro celular ou cartão). A cena capta a troca entre as gerações.
    Encontro colocou gerações para dividirem mesa, partidas de jogos e um pouquinho da vida. (Foto: Paula Maciulevicius/SEC)

    Na sexta-feira de manhã, último dia de outubro, o salão do Simted (Sindicato Municipal dos Trabalhadores em Educação) de Ribas do Rio Pardo, a 102 km da Capital, foi tomado por mesas e cadeiras prontas para acolher convidados especiais: pessoas 60+ do Centro de Convivência do Idoso e alunos da Escola Estadual Dr. João Ponce de Arruda.

    À medida que chegavam, duplas de diferentes fases da vida se formavam em torno das mesas. Sem cerimônia, Gabriele Barreto, de 16 anos, aluna do 2º ano do Ensino Médio, puxou não só uma cadeira, como também a conversa com Veraci Oliveira Silva, aposentada de 65 anos. Antes mesmo das apresentações, as duas já riam como velhas conhecidas.

    Na semana anterior, ambas haviam trocado cartas: um exercício simples, e cheio de significado. Na escola e no CCI, cada grupo foi convidado a escrever o que gostaria de dizer à outra geração.

    Em primeiro plano, uma jovem de cabelo cacheado e camiseta azul (à esquerda) aperta a mão de uma mulher idosa (à direita). A mulher idosa, de sorriso aberto, usa um vestido florido nas cores laranja, amarelo e verde. Ambas estão sentadas à mesa, num gesto de cordialidade e conexão.
    De um lado Gabriele, aos 16 anos, e de outro Veraci, com 65 e muita história pra contar. (Foto: Paula Maciulevicius/SEC)

    “O que eu disse na minha carta? Que eu gostaria que os jovens fossem mais carinhosos com a gente, sabe? E também nos ensinassem mais a viver nesse mundo de tecnologia”, contou Veraci.

    A resposta veio da juventude. “Escrevi que os mais velhos compreendessem que, às vezes, os jovens só querem chamar a atenção da família, porque estão passando por uma fase difícil”, explicou Gabriele.

    A experiência vivida em Ribas do Rio Pardo faz parte do projeto Conectando Gerações, da Secretaria de Estado da Cidadania, por meio das Subsecretarias de Políticas Públicas para a Juventude e para a Pessoa Idosa — uma iniciativa que vem ganhando adesão de municípios para promover a intergeracionalidade.

    Cidadania

    O projeto Conectando Gerações nasceu de uma convicção simples, mas transformadora: quando se incentiva o diálogo entre jovens e pessoas idosas, todos ganham.

    Para a subsecretária de Políticas Públicas para a Pessoa Idosa, Larissa Paraguassu, a proposta fortalece vínculos e constrói uma sociedade mais inclusiva ao unir afeto e política pública. “As trocas de saberes, de olhares e de experiências criam laços, reduzem preconceitos e ampliam o respeito mútuo entre todas as gerações. Ações intergeracionais como essas são uma importante estratégia de prevenção, enfrentando o idadismo e reduzindo desigualdades”, explica.

    Em primeiro plano e de pé no lado direito, uma mulher de pele negra, blazer xadrez e calça jeans fala ao microfone. Atrás dela, no painel digital iluminado, lê-se: "Lançamento e Adesão ao Projeto Conectando Gerações: Juventude e Pessoas Idosas: Caminhos para Promoção da Intergeracionalidade." Sentados em cadeiras no palco, à esquerda, estão três pessoas: uma mulher idosa de vestido claro, um homem de camisa azul clara e barba, e uma mulher jovem de blazer branco.
    Subsecretária para Pessoa Idosa, Larissa Paraguassu apresentou a iniciativa aos presentes. (Foto: Paula Maciulevicius/SEC)

    Durante o lançamento do projeto em Ribas do Rio Pardo, o subsecretário de Políticas Públicas para a Juventude, Jessé Cruz, destacou que o Conectando Gerações é uma política pública nascida do encontro entre sensibilidade e evidência. Para ele, trata-se de “uma política pública poética”, que combina afeto, dados e propósito para transformar relações e fortalecer o respeito entre gerações.

    Ao refletir sobre o ritmo acelerado da vida moderna, Jessé alertou para o risco de se perder o valor da experiência e do tempo. “Estamos correndo o risco de acreditar que tudo o que é velho é descartável, e isso é perigoso. O projeto nos convida a desacelerar e reconhecer o quanto precisamos uns dos outros. O que nos une são as nossas potencialidades, mas também as nossas limitações, e é nelas que aprendemos a depender uns dos outros e a construir juntos um futuro mais humano”, ressaltou.

    Ribas do Rio Pardo foi um dos 12 municípios de Mato Grosso do Sul que já aderiram ao projeto junto à Secretaria de Estado da Cidadania. Mais do que promover as ações, ao assinar o termo de adesão, as prefeituras recebem material multiplicador, além de metodologias e sugestões didáticas de aplicação.

    Para o prefeito Roberson Moureira, o projeto representa o resgate dos laços comunitários e a valorização de quem ajudou a construir a história da cidade, inspirando os jovens a seguirem esse legado. Ele ressaltou ainda que a idealização da iniciativa no município partiu do secretário de Esporte e Turismo, Charlin Castro.

    Pessoas jogando baralho em uma mesa escura. No primeiro plano, um homem idoso de chapéu de cowboy preto e camiseta roxa está sentado, jogando cartas com um jovem de camiseta azul, ambos concentrados no jogo. Ao fundo, em outra mesa, outros dois jovens, também de camiseta azul, jogam. A cena mostra a integração através de atividades recreativas. O telão ao fundo confirma o nome do projeto.
    Salão também trouxe gerações para jogar carteado e dominó.

    “O Conectando Gerações simboliza uma política pública que une respeito, reconhecimento e afeto, fortalecendo os vínculos entre juventude e pessoas idosas. A verdadeira conexão acontece no abraço, na conversa, no olhar. Quando a gente investe nas pessoas, investe no futuro”, resumiu o prefeito.

    No encerramento, a secretária de Estado da Cidadania, Viviane Luiza, emocionou o público ao falar sobre o significado do projeto e o poder da conexão humana. Ao relembrar os impactos da pandemia, ela destacou como o isolamento evidenciou a necessidade do outro seja no abraço, na escuta ou no afeto.

    “O Conectando Gerações é uma ponte de amor. Quando olhamos para as pessoas idosas, não vemos apenas suas histórias, mas a história viva do nosso Estado. Somos feitos de memórias e de amor, e é isso que nos conecta. E é somente com o coletivo, na luta por todos, que mostramos que o amor sempre vence”, concluiu.

    Acompanhe as ações da Secretaria de Estado da Cidadania pelo Instagram @cidadania.ms e também pelo canal no WhatsApp Somos Cidadania.

    Paula Maciulevicius, da Comunicação da Cidadania

    Categorias :

    Cidadania, Juventude, Pessoa Idosa

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