A cidadania presente nas comunidades indígenas também em contexto urbano. Na tarde desta terça-feira (30), encerrando o mês de abril indígena, a Subsecretária de Políticas Públicas para Povos Originários e para Juventude discutiu a saúde mental na aldeia Marçal de Souza.
O encontro, promovido pelo Conselho Regional de Psicologia, reuniu Estado, Funai, IFMS, Sesai, Sesau e Dsei para dialogar pela pauta indígena pensando em estratégias práticas para promover o bem viver dos povos originários.
Técnico da Subsecretaria de Políticas Públicas para Povos Originários e cacique da aldeia Marçal de Souza, Josias Ramires agradeceu a presença e reforçou que o tema é muito importante não somente nas comunidades indígenas das cidades como também nos territórios.
“Nós precisamos ter especialistas na área da Psicologia, não somente para o povo terena, mas para todos os povos de Mato Grosso do Sul, porque a gente sabe que tem o suicídio, ansiedade, depressão, e isso é muito preocupante no meio dos nossos povos. Então, ter essa temática aqui na comunidade e construir algo no coletivo com vários parceiros é um avanço que nós estamos tendo na busca por políticas públicas”, afirma Josias.
Conselheira do CRP/14 (Conselho Regional de Psicologia), Vanessa Terena abriu a roda pontuando que a luta dos povos indígenas vem desde 1.500, pelo direito ao território e identidade.
“A saúde mental não é diferente. Quando a gente fala sobre Psicologia, ela ainda é muito elitizada no Brasil. Quantos aqui já foram ao psicólogo? Ela ainda não é acessível à população brasileira, e se referindo aos povos indígenas então, muito menos. Os números nos mostram que tem uma psicóloga para 7 ou 8 mil indígenas, dependendo do território”, ressalta Vanessa.
Para a conselheira, é importante entender a Psicologia como política e a necessidade de implementá-la nos territórios. “Para ampliar o número de profissionais a gente precisa, primeiro, apresentar a Psicologia. Se a gente chegar hoje para qualquer ancião, seja dentro da cidade ou não, e perguntar o que o psicólogo faz, ele cuida do que? Quantos já se apresentaram aqui no território? A Psicologia tem 60 anos no Brasil e ela não se apresentou. Chegou e impôs um conhecimento branco e eurocêntrico”, completa Vanessa.
A psicóloga também chamou a atenção de todos ao dizer que a luta não se limita aos povos indígenas. “Porque todos aqui, em algum momento, atendem, convivem ou trabalham com pessoas indígenas”, pontua.
Representando o subsecretário de Políticas Públicas para Povos Originários, o técnico da Cidadania, Rosaldo Albuquerque de Souza contribuiu para a discussão ao falar das oito etnias presentes no Estado, entre elas a dele, kinikinau. “Um povo que tem sofrido muito desde 1910, quando perdemos o território. E aí, então, eu faço essa reflexão, nenhuma das oito etnias deixam de passar pelo mesmo problema que nós passamos, e isso vem causando um adoecimento mental nas pessoas. Nós, hoje, como Estado temos que ter essa visão ampliada, não podemos olhar mais só para o nosso povo, temos de enxergar o povo indígena de forma geral”, ressalta.
Transversalidade
Além da equipe da subsecretaria de Povos Originários, a pasta da Juventude também esteve presente e trouxe contribuições. Subsecretário de Políticas Públicas para Juventude, Jessé Cruz, comentou que está no planejamento da Semana Estadual, que neste ano terá a saúde mental como pauta.
“O que nós pensamos, e eu quero compartilhar com vocês e abrir para todas as outras instituições somarem conosco, é que os dados são alarmantes, e diante deste levantamento queremos pensar a política pública mais assertiva possível, com uma estratégia que também fale com a juventude indígena”, colocou.
À frente do Ceamca (Centro Especializado de Atendimento à Mulher, à Crianças e ao Adolescentes em Situação de Violência), a coordenadora Cris Duarte explicou aos presentes o papel do atendimento às mulheres e filhos que estão no mesmo contexto de violência.
“O Centro existe há mais de 20 anos, porém ele só atendia às mulheres em situação de violência, até que em fevereiro foi publicado um decreto acrescentando este acolhimento aos filhos e filhas das mulheres já atendidas pelo psicossocial do Ceamca”, compartilhou.
Cris Duarte ressaltou o papel do Centro como equipamento do Governo do Estado no acolhimento às vítimas de violência. “Estamos à disposição da comunidade indígena e das demais para que a gente possa vir e falar sobre o nosso atendimento”.
Paula Maciulevicius, da Comunicação da Cidadania.