Oficina abre Julho das Pretas em MS com reflexão sobre identidade, autoestima e bem viver

  • Publicado em 04 jul 2025 • por Paula Maciulevicius de Oliveira Brasil •

  • Com o tema “Eu, mulher preta, na cidadania: por reparação e bem viver”, o Julho das Pretas 2025 em Mato Grosso do Sul começou com uma oficina que propôs um momento de reconhecimento, reparação e afirmação da beleza e da história das mulheres negras. A atividade foi promovida pela Subsecretaria de Políticas Públicas para Promoção da Igualdade Racial, pasta vinculada à SEC (Secretaria de Estado da Cidadania), e abriu oficialmente a programação do mês.

    A oficina trouxe como proposta central o resgate da autoestima por meio da maquiagem e do turbante – símbolos que carregam não apenas estética, mas ancestralidade e resistência.

    Subsecretária, Vânia Lúcia explica como maquiagem e turbante carregam a história. (Foto: Paula Maciulevicius/SEC)

    “Quando falamos de maquiagem e turbante, falamos de identidade. A maquiagem, quando pensada para a pele negra, faz com que a gente se reconheça, se sinta ainda mais bela. E o turbante, além de ser um adorno, é conexão com nossa ancestralidade e uma forma de liberdade sobre o nosso cabelo. É sobre nos enxergarmos e nos sentirmos felizes do jeito que somos”, destaca a subsecretária de Políticas Públicas para Promoção da Igualdade Racial, Vânia Lúcia Baptista Duarte.

    E foi justamente a valorização da beleza negra o que motivou a maquiadora Negona Make a iniciar sua trajetória. De segurança à profissional da beleza, ela compartilhou com as participantes que sua história começou por uma necessidade pessoal: as maquiagens que contratava para eventos não respeitavam os tons da sua pele.

    “Eu pagava para me maquiar e saía das festas chorando, porque não me reconhecia. Os maquiadores não sabiam trabalhar com a pele negra, me deixavam branca, era um desastre. Foi aí que eu pensei: já que não encontrava quem me atendesse, eu mesma iria aprender”, relembrou Negona.

    Cansada de sair com cara branca das maquiagens, ex-segurança resolveu investir na maquiagem como forma de resistência. (Foto: Matheus Carvalho/SEC)
    Negona Make investe em produtos para atender os mais variados tons de pele negra. (Foto: Paula Maciulevicius/SEC)

    Determinada a mudar essa realidade, ela se especializou para atender, principalmente, outras mulheres negras. “Sempre diziam que a gente não podia usar batom tal cor, que tinha que esconder. A gente pode usar o que quiser. Eu faço questão de atender mulheres negras, porque quando eu maquio uma negona, eu me vejo ali. E quando recebo uma mensagem dizendo ‘Negona Make, ficou maravilhosa’, eu sinto que estou no caminho certo.”

    A oficina também trouxe vivências de autoconhecimento como a da advogada Josiane Meira, que levou anos até se reconhecer como mulher preta.

    “Na minha família, minhas referências negras não exaltavam a beleza negra. Algumas modificaram seus traços com cirurgias. Quem me ensinou a me amar como sou foi a minha mãe, que é branca. Hoje me reconheço e faço questão de levar isso para as mais novas da minha família”, contou Josiane.

    A jovem que aprendeu com a mãe a valorizar os traços, hoje não esconde nem afina, e sim exibe o que lhe dá a face negra. (Foto: Matheus Carvalho/SEC)
    Advogada, Josiane hoje se permite realçar a beleza negra nos cabelos. (Foto: Matheus Carvalho/SEC)

    Ela explicou que a maquiagem que antes buscava esconder ou afinar seus traços hoje tem um novo significado. “Eu aprendi truques para afinar o nariz, diminuir o rosto. Hoje eu não faço mais isso. Pelo contrário, eu ilumino. Eu gosto de mim como sou e quero ser exemplo para outras mulheres. Se eu não me aceitar, ninguém me aceita.”

    Entre as mulheres que compartilham suas trajetórias e o uso do turbante como símbolo de força e resistência está também a advogada e ativista Andreia Ferreira. Baiana, Andreia cresceu cercada pela cultura afro-brasileira, mas só incorporou o turbante como parte da sua identidade na vida adulta, quando passou a se permitir ocupar espaços com liberdade.

    “Na infância e adolescência, o uso do turbante era algo mais ligado aos carnavais e festas culturais. Mas, quando entrei no mercado de trabalho, fui me embranquecendo, porque o ambiente corporativo não aceitava adereços que remetiam à africanidade. Tive que me encaixar naquele padrão. Só mais tarde, já no curso de Direito, comecei a me reconectar comigo mesma. Passei a usar roupas coloridas, tecidos africanos, a me permitir ser quem eu sou”, relatou.

    Andréia brinca que hoje o turbante chega primeiro que ela aos espaços. (Foto: Matheus Carvalho/SEC)

    Hoje, o turbante é sua marca registrada e, como ela mesma diz, chega antes dela. “Até hoje, ainda percebo o impacto quando entro em alguns lugares. Eu tenho 1,80m, chego com vestido coloridão, turbante, e as pessoas sempre brincam que primeiro chega o meu turbante e depois eu. Mas é isso, é sobre ocupar espaços e levar nossa história junto.”

    Julho das Pretas

    A campanha segue com programação aberta ao público, promovendo debates sobre cidadania, equidade e espaços de protagonismo para as mulheres negras, sempre com o olhar voltado para o bem viver e a reparação histórica.

    Para conferir o calendário, clique aqui.

    Paula Maciulevicius, da Comunicação da Cidadania

    Categorias :

    Cidadania, Racial

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