Abrindo o mês de março e as comemorações ao dia 8, o IBISS-CO em parceria com o Centro Estadual de Cidadania LGBTQIA+ lançou digitalmente a cartilha: “Mulheridades lésbicas e bissexuais de Mato Grosso do Sul – visibilidade, representatividade e combate à violência”.
De autoria da educadora social do IBISS, a psicóloga Ludmila Neves Müller, o material está disponível para a população pelo link.
Na noite de lançamento, último dia 1º de março, no auditório do MIS, Ludmila explicou que a construção dos capítulos partiu de um olhar interseccional. “Compreendendo como as várias dimensões das identidades, como classe, raça, localização geográfica, se entrelaçam e afetam nossas experiências singulares e coletivas”, descreve.
Um dos capítulos se dedica a pontuar as definições, como: o que é identidade de gênero, orientação sexual, expressão de gênero, o uso dos pronomes e a importância do respeito às referências, além de trazer um recorte histórico desde a colonização passando pelos momentos de ditadura militar, a importância da luta dos movimentos sociais, dados como o LesboCenso e instituições, organizações e coletivos voltados ao tema.
Pedagoga, Ana Karolinna Rodrigues, de 26 anos, foi uma das pessoas que compartilhou sua vivência com o público enquanto mulher cis lésbica e também pesquisadora da área de educação.
“Esta é uma cartilha potente e muito necessária para o cenário que a gente vive. O material escancara a porta para as violências que acontecem e que não são denunciadas, e representa uma resistência. Quando a gente falar sobre ‘mulheridades’, vai falar sobre mulheres lésbicas, mulheres bissexuais, que em sua maioria são invisibilizadas. Esses documentos que a cartilha traz possibilitam que a gente traga esse enfoque para o combate às violências, combate aos preconceitos, que nos atravessam todos os dias de formas distintas”, observou Ana Karolinna.
Médica, Giulia Scorsin destacou a importância da cartilha para o resgate não só histórico como também para lembrar a potência que existe “em ser mulher, em amar mulher, em amar mulheridades, em ser mulheridades diversas. Porque a gente sabe que ser mulher não é ser uma coisa só”.
Enquanto profissional de saúde, Giulia trouxe um ponto de tensionamento a respeito da forma como as mulheridades, em especial aquelas que fogem da cisgeneridade e heteronormatividade são acolhidas no sistema de saúde.
“Como que as nossas famílias estão sendo tratadas? Como que a nossa sexualidade está sendo tratada? Nossos exames preventivos estão sendo tratados? E o nosso prazer? Nosso sorriso, nossa depressão está sendo tratada? Na maioria das vezes, tudo isso está sendo patologizado e invisibilizado. Nós precisamos que este incômodo não só atravesse vocês, mas que ele continue e gere um contra-incômodo, para ampliar cada vez mais o espaço, e que a gente consiga não só construir daqui pra frente, mas também resgatar muito do que já foi construído, que, muitas vezes, tem um esforço enorme, é um sistema inteiro que tenta calar as nossas histórias, calar as nossas vozes”.
O material também apresenta uma homenagem a Márcia Zen, ativista dos Direitos Humanos, da saúde e do movimento LGBTQIA+, que deixou um legado ao partir em 2021.
Para o subsecretário de Políticas Públicas para a População LGBTQIA+, Vagner Campos, é fundamental essa interação entre a academia, o movimento social e os gestores.
“A gente tem muita história para contar, e essa interação é o que faz com que os gestores públicos possam pensar, de fato, as políticas públicas que atendam essa população. O movimento feito aqui hoje é de demarcar, de dizer para a sociedade de Mato Grosso do Sul que existem lutas, existem vivências, existe a diversidade, e que nós temos, gestores públicos, precisamos estar na escuta para essas discussões”.
Paula Maciulevicius, da SEC