Um grande marco para a comunidade que honra, diariamente, o legado de Dionísio Antônio Vieira. Há 15 anos, Furnas de Dionísio ganhava o reconhecimento, no papel, de território quilombola. A titulação é comemorada, até hoje, como o fortalecimento da luta dos ancestrais, e com o tempo, também dos descendentes e agregados de Dionísio.
Quarta geração do fundador da comunidade, a atual presidente da Associação de Furnas do Dionísio, Leandra Martins Silva conta que Dionísio foi um escravizado que veio de Salinas, Minas Gerais, por volta de 1890.
“Ele chegou na comunidade, viu esse espaço, viu que tinha muitas nascentes de água e lugares de preservação de mato. Viu um grande refúgio, e então se instalou aqui com suas nove filhas e esposa e começou a construir a comunidade”, lembra Leandra.
O reconhecimento da comunidade como território quilombola é encarado pelos moradores como herança. “Isso aqui é para os nossos filhos, nossos netos. É o que ele lutou, e batalhou para deixar. As próximas gerações vão usufruir deste espaço, deste lugar, do que a gente está construindo, porque a nossa história continua”, completa a presidente.
Na programação desta terça-feira (7), em Furnas de Dionísio, município de Jaraguari, as comemorações incluíram o festejo na sede da associação e a sessão itinerante na Câmara Municipal de Vereadores, com a votação do projeto de lei da Igualdade Racial.
Coordenadora Municipal de Políticas Públicas para Igualdade Racial, Vera Lúcia explica que a comunidade passou por todo um processo até a chegada do título, e relembrou que ainda se trata de um provisório.
“Tivemos muitos avanços, a partir do título, nos reconhecemos como comunidade tradicional e sabemos o nosso direito. Entre eles, os jovens que estão acessando a UFMS com a cota quilombola. Tem gente fazendo jornalismo lá, administração, biologia, farmácia, tem as meninas também que estão trabalhando na educação do campo”, enumera.
Vera pontua ainda que o próximo passo é trabalhar seguindo as diretrizes da educação escolar quilombola e seguir sendo exemplo de comunidade quilombola dentro do Estado.
Para a subsecretária de Políticas Públicas para Promoção da Igualdade Racial, pasta ligada à Cidadania, Vânia Lúcia Baptista Duarte, a comunidade de Furnas de Dionísio é um território rico em ancestralidade, cultura, história, turismo e diversidade.
“Estamos em um quilombo, um local de ancestralidade que tem uma identidade própria ligada ao contexto do processo da escravidão no Brasil, onde essa população se afirma como quilombola. Isso tem ligações familiares, ligações históricas, muita luta e muita resistência. Este território é um processo de conquista, e também políticas públicas”, enfatiza Vânia.
Paula Maciulevicius e Matheus Carvalho, da Comunicação da Cidadania