Em reverência aos 98 anos da morte de Tia Eva, seus descendentes testemunharam um passo histórico. Nessa segunda-feira (11), a Secretaria de Estado da Cidadania assinou, junto à Agehab, o compromisso de construir novas moradias que garantam a perpetuação da família no território.
O termo de intenção para a construção de novas moradias no quilombo Tia Eva busca assegurar não só a habitação para os descendentes da comunidade como também promover a preservação cultural fortalecendo os laços comunitários, para que as futuras gerações permaneçam no território.
A mais antiga descendente de Tia Eva e moradora do quilombo, dona Adair Jerônimo da Silva não vê a hora de ter o neto perto de novo. “A comunidade já está pequena para o tanto de gente que tem, meu neto estava perguntando esses dias. Ele foi embora porque não tinha onde morar aqui”, conta.
Para a matriarca, a permanência da família no território é o resgate da própria história. “Minha avó deixou a tradição para nós, e nós vamos deixar acabar? Não!”, luta.
Subsecretária de Políticas Públicas para Promoção da Igualdade Racial, Vânia Lúcia Baptista Duarte explica que o processo de ampliação da área da comunidade está no Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e que agora acontece o primeiro passo.
“Vamos à assinatura do termo de intenção com as autoridades e todos nós, da comunidade, representados pela associação de moradores. O segundo passo é mandar um projeto de lei para a Assembleia Legislativa, para a doação do terreno, e então tentar junto ao Governo Federal um projeto específico para construção das moradias”, descreve Vânia, que é descendente de tia Eva e moradora da comunidade.
Diretora-presidente da Agehab (Agência de Habitação Popular de Mato Grosso do Sul), Maria do Carmo Avesani Lopez relembra que já existia um estudo com relação à área desde 2015, mas que foi fundamental a união do Governo do Estado junto ao Incra.
“Nós pensamos neste protocolo de intenção que é uma parceria entre o Governo do Estado, o Governo Federal e a comunidade quilombola, e estamos aqui com anuência do governador Eduardo Riedel. Vamos beneficiar em torno de 150 famílias, e isso é uma benção, uma conquista de vocês. Parabéns pela luta desta comunidade, resistência e persistência em buscar esse objetivo”, enfatiza Maria do Carmo.
Para a secretária de Estado da Cidadania, Viviane Luiza, a soma de esforços resulta em respeito à ancestralidade.
“A união faz a força, junto com o Incra, com a Agehab, a comunidade e o Governo do Estado. Sempre digo que não adianta não ser racista, é preciso ser antirracista, e nós estamos lutando pra isso, unido a história de todos os que já passaram e todos que ainda vão vir das novas gerações, reafirmando o compromisso e a história, porque a luta de vocês tem que ser a luta de todos nós”, destaca.
Nascida e criada na comunidade, Sara Cristina da Silva Villalba tenta encontrar palavras que descrevam o momento.
“Enxergo como uma honra e uma oportunidade de continuar nossa descendência, continuar passando a nossa cultura para os nossos filhos. É histórico o que estamos vivendo, porque a cultura tem que continuar aqui, no território. Se tia Eva estivesse viva, ela ia querer que continuasse. Isso, pra gente, é um marco de uma luta muito grande”, reflete.
Paula Maciulevicius e Matheus Carvalho, da Comunicação da Cidadania